Soneto XIV da Via Láctea, de Olavo Bilac


Viver não pude sem que o fel provasse

Desse outro amor que nos perverte e engana:

Porque homem sou, e homem não há que passe

Virgem de todo pela vida humana.


Porque tanta serpente atra e profana

Dentro d’alma deixei que se aninhasse?

Porque, abrasado de uma sede insana,

A impuros lábios entreguei a face?


Depois dos lábios sôfregos e ardentes,

Senti - duro castigo aos meus desejos - 

O gume fino de perversos dentes…


E não posso das faces poluídas

Apagar os vestígios desses beijos

E os sangrentos sinais dessas feridas!





Comentários