Epígrafes - Crepúsculo e Gênesis


 

Agora que já sabemos o que é um epígrafe, vamos analisar a primeira das epígrafes da saga crepúsculo.

A frase usada para o primeiro da saga, é um trecho do primeiro livro da Bíblia, o Gênesis. “Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, Nem nele tocareis. Para que não morrais.”

Justamente por isso, a capa original do livro contém uma maçã, fruta geralmente associada ao “fruto proibido” bíblico. Isso, porém, é um erro, já que no Gênesis não se diz o nome do fruto, e é muito provável que se trate de uma metáfora, e não de um fruto real, e Stephenie Meyer, por sua formação cristã, está bem ciente disso.

Tudo isso faz referência à situação que se apresenta a Bella em Forks (uma cidade que pode não ser o Éden, mas tem tanta vida vegetal quanto esse jardim): Edward, o vampirismo, a escolha entre viver e morrer (continuar humana), e não viver nem morrer (tornar-se vampira). Edward a adverte de que não deveria escolher a segunda opção, pelo seu próprio bem, pelo bem de sua alma, assim como o Deus bíblico adverte Adão e Eva de que não deveriam comer do fruto daquela árvore, pois morreriam.

Há uma aparente contradição aqui: o fruto do Gênesis levaria à morte, e o do Crepúsculo à não-morte. Porém, ambos frutos levam a uma mesma morte - à destruição da alma.

A morte referida na história bíblica não é apenas a morte física (do corpo), mas é principalmente a “morte espiritual”, ou seja, viver afastado de Deus para sempre, num estado decaído e perdido. Em crepúsculo, a escolha de Bella (cujo apelido possui as mesmas vogais de Eva, outra coincidência) levaria, segundo a crença de Edward, à destruição de sua alma. Ela passaria a ser, como todos os vampiros são, um ser sem vida nem morte.

Essa escolha, tão crucial, tão definitiva, pode ter sido tão difícil para Bella quanto foi para Eva. Ambas estavam apaixonadas por seus companheiros, e acreditavam em um destino que lhes cabia (e que aceitavam de muito bom grado). Eva e Bella desejam ser mães, e estar junto a seus respectivos filhos e cônjuges pela eternidade.

O grande paradoxo, ou a ironia, é que Eva poderia encontrar essa felicidade eterna através da redenção obtida pela obediência a Deus, enquanto que Bella, ao que parece, precisaria encontrar o caminho oposto para encontrar sua felicidade.

Dois frutos, duas escolhas. Duas mulheres, dois destinos. Bella e Eva são, para mim, um grande exemplo da capacidade que as mulheres têm de tomar decisões difíceis, de aguentar as consequências disso, e de sair mais fortes ao enfrentar as dificuldades da vida, e sou grata a Stephenie Meyer por retratar isso tão bem em sua obra, desde a primeira página.


Texto de Perla

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