Vamos começar a explorar as passagens dos livros da saga crepúsculo que deram origem aos títulos dos livros, o que pode nos ajudar a entender melhor alguns dos símbolos e metáforas utilizados por Stephenie Meyer em sua obra.
crepúsculo
A palavra ‘crepúsculo’ dá nome à saga e ao primeiro livro, mas poucas vezes aparece textualmente nos livros.
Uma dessas poucas vezes é nesse trecho do livro crepúsculo, página 172 (edição de 2009, com a capa do filme):
- Charlie! - De repente me lembrei da existência dele e suspirei. Olhei para o céu escuro da chuva, mas não revelava nada. - Que horas são? - perguntei a mim mesma em voz alta ao olhar o relógio. Fiquei surpresa ao ver a hora, Charlie estaria vindo para casa agora.
- É a hora do crepúsculo - murmurou Edward, olhando o horizonte a oeste obscurecido pelas nuvens. Sua voz era pensativa, como se sua mente estivesse em um lugar distante. Olhei pra ele enquanto ele fitava sem ver pelo para-brisa.
Eu ainda o estava encarando quando seus olhos de repente se voltaram para os meus.
- Gosto da noite. Sem o escuro nunca veríamos as estrelas. - Franzi a testa. - Não que a gente veja muitas por aqui.
Ele riu e o clima ficou mais leve de repente.
No epílogo de crepúsculo, a palavra aparece duas vezes. Num momento, Edward fala no crepúsculo do dia:
Assim que ficamos a sós, ele me girou nos braços e me carregou para o terreno escuro até chegar ao banco nas sombras da árvore. Ele sentou ali, mantendo-me aninhada em seu peito. A lua já estava alta, visível através das nuvens diáfanas, e seu rosto reluzia pálido na luz branca. Sua boca estava contraída, os olhos perturbados.
- Porque? - perguntei delicadamente.
- O crepúsculo, de novo - murmurou ele. - Outro fim. Mesmo que o dia seja perfeito, sempre tem um fim.
- Algumas coisas não precisam terminar - sussurrei, tensa de imediato.
Ele suspirou.
- Eu a trouxe ao baile - disse ele devagar, por fim respondendo à minha pergunta - porque não quero que perca nada. Não quero que minha presença subtraia nada de você, se eu puder evitar. Quero que você seja humana. Quero que sua vida continue como aconteceria se eu não tivesse morrido em 1918 como morri.
Porém, ao final do diálogo, ele volta a usar a palavra crepúsculo novamente, mas fala de outro crepúsculo, não o do fim do dia:
- Então prepare-se para que este seja o fim - murmurou ele, quase para si mesmo -, porque este será o crepúsculo de sua vida, embora sua vida mal tenha começado. Você está pronta para desistir de tudo.
- Não é o fim, é o começo - discordei a meia-voz.
As palavras de Edward nos fazem entender que o ‘crepúsculo’ a que se refere a saga, não é o crepúsculo solar, ou seja, a luz que ilumina o céu depois do pôr do sol por alguns minutos antes de escurecer, como tínhamos entendido até então.
Há algo mais aí. É o crepúsculo dela, “o crepúsculo de sua vida”. Crepúsculo (o livro, a saga e toda a simbologia relacionada) se refere ao decaimento da vida de Bella. É uma forma poética de Stephenie Meyer dizer que a vida humana de Bella está se perdendo, acabando.
A obra não é, portanto, apenas um relato glamoroso de uma adolescente que se entrega a um vampiro dominador. É toda uma lamentação pela perda da vida dela, embora coisas boas também aconteçam.
E a grande ironia é que esse vampiro controlador, que irá tirar a sua vida, é quem dá voz à razão, e a lembra de tudo o que ela irá abrir mão, de tudo o que ela estará perdendo - sua vida. Bella tinha pai e mãe vivos, uma vida saudável, amigos na escola, não vivia em meio a uma guerra ou a uma pandemia, como Edward na época em que morreu, em 1918. E iria abrir mão de tudo isso. Tal sacrifício (se pode se chamar assim) é o que arderá nas chamas deste crepúsculo.
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