Livros que influenciaram a saga crepúsculo



Stephenie Meyer, nossa autora da saga, explicou que cada um dos livros principais da saga crepúsculo tem inspiração em outros clássicos da literatura em língua inglesa. Mas não é que ela simplesmente “copiou” a ideia de outro livro e todos seus livros se resumem a “reciclar” ideias de outras pessoas.

A relação entre os livros de Stephenie e os que a inspiraram é bem mais interessante. Há semelhanças e diferenças bem curiosas. Vejamos algumas.


crepúsculo

O primeiro livro da saga, crepúsculo, foi escrito com inspiração em Orgulho e Preconceito, da autora inglesa Jane Austen.

De fato há muitas semelhanças entre Edward e Mr. Darcy, principalmente sua aversão à interação social e sua rejeição inicial à que seria o grande amor de sua vida. Mas também há uma grande diferença: enquanto Mr. Darcy no começo não quer saber de Elizabeth por sua classe social ser inferior à dele, Edward se recusa a assumir seu amor por Isabella (versão italiana de Elizabeth) por considerar que ela em seu estado humano mortal é um ser superior a ele.

Outras semelhanças são a “histeria” das mães de Bella e de Elizabeth, que oscilam entre preocupações por suas filhas e futilidades; a surpresa do pai de ambas ao saber do romance entre os protagonistas; o fato de que as irmãs de Edward (Alice) e de Darcy (Georgiana) tinham grande atração por suas cunhadas; etc.


lua nova

A obra clássica que influenciou o segundo livro da saga foi nada menos que Romeu e Julieta, do grande William Shakespeare.

No livro de Shakespeare, Romeu e Julieta se apaixonam secretamente e, sabendo que suas famílias não aprovariam sua relação por serem inimigas, resolvem se casar às escondidas.

Logo após o casamento, Romeu é exilado da cidade (por ter cometido homicídio) e Julieta é prometida em casamento por seu pai a um nobre amigo da família.

Com a ajuda do padre que celebrou seu casamento, ela finge a própria morte com um falso veneno para escapar desse casamento arranjado e o padre manda chamar Romeu, para que volte escondido a Verona para buscar sua amada e fugir dos conflitos familiares.

Só que o telefone sem fio que chega a ele é que Julieta morreu. Ao voltar a Verona, Romeu bebe um veneno verdadeiro. Quando Julieta acorda de sua falsa morte vê seu amado morto, toma a espada dele e também tira a própria vida.

Troque Verona por Volterra, Capuletos e Montéquios por lobos e vampiros e vai começar a entender mais as semelhanças e diferenças entre lua nova e Romeu e Julieta.


eclipse

O terceiro livro da Saga Crepúsculo, Eclipse, é inspirado no livro O Morro dos Ventos Uivantes, da clássica escritora inglesa Emily Brontë, outro exemplo do apego de Stephenie Meyer pela literatura inglesa clássica, em especial pelas mulheres que se destacam nessa área.

Na base da trama está um complicado ciclo de amores, decepções e vinganças. Preconceitos de origem, vícios, padrões de conduta, etiqueta e moral, etc, recheiam essa novela de paixões e ódios, em que o órfão Heathcliff se vinga de seus irmãos de criação Catherine (a quem amava) e Hindley, e de Edgar, o jovem rico com quem sua querida Catherine se casou. Ele mesmo se casa com Isabella irmã de Edgar, compra a mansão de Hindley (que estava afundado em dívidas) e casa seu próprio filho, Linton, com a prima Cathy (filha de sua adorada Catherine com o odiado Edgar). Morto Linton, Heathcliff passa a viver com Hareton (filho de Hindley) e Cathy na mansão.

Tudo isso se reflete em Eclipse porque é nesse livro que Bella tem de escolher definitivamente entre Edward (o jovem rico que vive numa mansão) e Jacob, que acaba sendo rejeitado e alimenta um grande ódio por Edward, o que só agrava a rixa entre os lobos e vampiros.

A grande diferença é que Bella nunca amou Jacob como amou Edward, e como ela mesma diz mais de uma vez, ela sempre escolheu Edward, mas decidiu manter uma forte amizade com Jacob - o que vem a ser muito importante para a trama, porque os lobos passaram a apoiar os Cullen contra os clãs vampiros inimigos, como o grupo de Victoria e os Volturi.

E, diferente de Heathcliff, que “adota” a filha da mulher que amou apenas para vingar-se da mãe através da filha, quando Bella dá à luz a Renesmee, Jacob tem um imprinting pela menina, e passa a ser seu maior protetor (ou um cão de guarda como diria o Team Edward).


amanhecer

O último livro da linha principal da saga é um pouco mais complexo que os livros anteriores. Ele não tem inspiração em um, mas em dois livros: Sonho de uma tarde de verão, e O mercador de Veneza, peças teatrais de Shakespeare.

O Mercador de Veneza conta a história de Antônio, o mercador, que aceita ser o fiador de um empréstimo que seu amigo Bassânio tomou do judeu Shylock, conhecido por emprestar dinheiro com juros muito altos. Shylock e Antônio, eram rivais em Veneza, e Shylock aproveita a situação para impor uma condição estranha como garantia: se Bassânio não pudesse pagar o dinheiro emprestado, Shylock teria direito a tirar uma libra da carne de Antônio. E ocorre justamente o esperado por Shylock: Bassânio não consegue pagar a tempo, e Shylock procura cumprir com o contrato.

Diante do Tribunal do Duque de Veneza, Shylock exige uma libra da carne de Antônio, mas este é defendido por um falso advogado, que na verdade é Pórcia, noiva de Bassânio, disfarçada. Ela utiliza um argumento muito forte para defender Antônio: Shylock tinha direito a uma libra da carne, mas não poderia tirar uma gota sequer do sangue de Antônio, e caso o fizesse deveria ser punido de acordo com a lei.

E como tudo isso se relaciona com Amanhecer? Na saga, os Volturi fazem o papel de vilões (principalmente Aro), e convencem os Cullen a transformar Bella em vampiro o quanto antes ou a família sofreria as consequências. Só que, apesar de Bella ser transformada, ela tornou-se mãe, e Renesmee parecia uma ameaça às regras dos Volturi, que partiram para Forks para lutar contra os Cullen. E quem defende o Clã Olímpico é Alice, que com sua grande inteligência consegue demonstrar que os Volturi não podem ultrapassar os limites do que tinha ficado acordado: Bella havia sido transformada, e Renesmee não era uma criança imortal, e se os Volturi começassem uma guerra, eles é que sairiam perdendo.

Sonho de uma Noite de Verão é uma história de fantasia que mistura figuras da mitologia greco-romana e de outras lendas europeias, o que era comum na época de Shakespeare. Essa história se centra em amores não correspondidos: Helena ama Demétrio, que ama Hérmia; mas Hérmia ama Lisandro e é correspondida, só que o pai dela não aprova a relação, e deseja que ela se case com Demétrio, e para isso conta com o apoio do Duque de Atenas que se casará com a Rainha das Amazonas.

Helena, Demétrio, Hérmia e Lisandro acabam se perdendo numa noite na floresta, e são confundidos em suas paixões por feitiços e magias de elfos e duendes. Mas no final tudo se resolve, e termina num casamento coletivo.

O interessante da história é que Shakespeare a escreveu para uma festa de casamento, e nessa peça alguns personagens também interpretam uma peça para o casamento do Duque de Atenas e a Rainha das Amazonas, criando duas histórias, uma dentro da outra, igual a como acontece em Amanhecer, onde, através das visões de Alice e do dom de Aro, há uma luta dentro da luta, com seres fantásticos reunidos de vários lugares, com seus diferentes poderes.

Mas, assim como na peça de Shakespeare, tudo se resolve em paz. E, no final das contas, tudo não passou de um sonho numa noite de verão, ou de um dia de inverno como em amanhecer.


outros livros

Stephenie Meyer também já declarou que outras duas escritoras tem influência importantes em seus livros. Lucy M. Montgomery e Charlotte Brontë são as escritoras favoritas de Stephenie, que diz ter lido todos seus livros.

Essas duas autoras clássicas da língua inglesa não influenciaram nenhum livro específico da saga crepúsculo. Sua influência é presente em toda a obra de Meyer: na saga crepúsculo, em a hospedeira, a química, e outras publicações.

Lucy Maud Montgomery (1874-1942) é a escritora das séries Anne de Green Gables, Pat de Silver Bush, Emily de New Moon, e outros livros, entre romances, contos e poemas. Esta escritora canadense passou a maior parte do tempo em casa, cuidando dos filhos e apoiando seu marido em suas responsabilidades religiosas, mas também soube aproveitar o tempo para escrever, e dessa forma ocupar-se e enfrentar a depressão que a perseguiu por muitos anos.

A poetisa e romancista inglesa Charlotte (1816-1855) foi a irmã Brontë que viveu por mais tempo, já que suas irmãs morreram mais cedo. Emily, escritora de O Morro dos Ventos Uivantes, morreu em 1848 aos 30 anos, e Anne, autora de Agnes Grey, morreu em 1849 aos 29 anos. Charlottë escreveu, entre outras obras (foi a irmã Brontë que mais publicou) Jane Eyre, com uma forte protagonista feminina, que influenciou muito o ponto de vista de Stephenie Meyer sobre questões femininas.


livros que não influenciaram a saga

Antes de terminar este artigo falando sobre duas influências importantes para a autora da saga, vamos falar um pouco sobre alguns livros que não influenciaram Stephenie Meyer.

Por incrível que pareça, a autora da maior obra da literatura vampírica do século XXI nunca leu outros livros sobre vampiros antes de escrever essa dramática história de amor entre humanos e vampiros.

A própria Stephenie Meyer reconheceu isso numa entrevista à revista Época em julho de 2008 (Leia aqui).

Ela também confessou nunca ter lido livros sobre vampiros (exceto por um de Anne Rice que ela leu na época da escola mas não lembra qual).

Dessa forma, pode-se concluir que ela nunca leu os livros e contos de Bram Stoker, autor do maior clássico vampírico de todos os tempos, Drácula (publicado em 1897). Nem O Vampiro, primeira ficção vampírica de que se tem conhecimento, escrita por John Polidori em 1819. Nem qualquer outro livro, conto ou novela, clássico ou desconhecido.

E filmes de terror, nem pensar! Ela evita qualquer mídia ou entretenimento que seja impróprio para crianças, quer envolva sexo, violência, mortes, vocabulário impróprio, etc., o que a afasta de quase tudo do mundo do terror.

Em outras entrevistas, Stephenie acrescenta que tudo o que sabia sobre vampiros antes de escrever crepúsculo é parte do conhecimento geral da cultura popular. E, enquanto escrevia o primeiro livro, ela foi descobrindo junto com Bella, quando ela pesquisava sobre “os frios” no início da saga. A partir daí, foi obra da imaginação e criatividade.

Essa observação é importante porque é uma mostra da originalidade da obra e da criatividade da autora, que se inspira em livros clássicos da língua inglesa (alguns, inclusive, são clássicos da literatura universal) que não são obras de fantasia ou terror como é crepúsculo, sem, no entanto, ter qualquer ligação com outras obras desses gêneros.


Texto de José Hermontes

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