Resenha - a breve segunda vida de bree tanner



No Natal de 2010, eu ganhei, de presente, algum dinheiro. O investi - gosto de usar esse verbo em casos como esse - em aumentar minha coleção de livros de Stephenie Meyer, que chamo carinhosamente de Coleção Crepúsculo, e que será objeto de uma série de resenhas minhas. Naquele momento, comprei A Hospedeira, Eclipse, e o livro aqui resenhado, a breve segunda vida de bree tanner. Mas, por diversas razões, somente agora, quase 10 anos depois é que li esse livro. Mas o li. E gostei dele.


Seguindo o precedente marcado, mais recentemente, na história da literatura universal por J. K. Rowling (que adicionou livros secundários à série Harry Potter), Meyer escreve essa bela novela, segundo ela mesma diz na interessante Introdução, contando a experiência de uma personagem que aparece rapidamente no terceiro livro da saga, Eclipse. A história começa, sempre narrada pela própria Bree, pouco depois de ela ter sido transformada em vampira, e termina quando ela literal e figurativamente fecha os olhos.

O fato de Bree ser “novata” no mundo dos vampiros é, aliás, o grande motivo que faz com que haja uma história interessante para ler. E foi a razão pela qual a própria autora resolveu escrever seu livro - mostrar como é ser um vampiro “verdinho”, sem nenhuma preparação para isso.

De fato, Bree é transformada em vampira, da mesma forma que vários outros, por um par de “vilões” da história principal - Victoria e Riley. E Bree faz parte desse grupo de antagonistas sem mesmo ter noção de tal antagonismo, e sabendo mesmo muito pouco sobre o que é ser vampiro.

Assim é que tudo o que Bree chegou a saber sobre os vampiros vinha do que Riley ensinara ao grupo de novos vampiros, que mantinha em cativeiro, mais algumas coisas que aprendera em suas pequenas aventuras com Diego, outro vampiro do grupo, e com o pouco que ela pôde observar com os Cullen. Tudo muito confuso, e não explicado a uma jovem cuja primeira vida também não fora nada fácil.

A história não tem divisões formais - como partes, capítulos, nem nada disso. Mas a história em si pode ser dividida em três momentos, baseando-se justamente na ideia que apresentei pouco acima.

No início, Bree convive, ou sobrevive (mas, qual dessas palavras realmente pode ser aplicada a um vampiro?) com os demais vampiros do bando de Riley, totalmente alienada da realidade. Depois, num segundo momento, sua aproximação com Diego a leva a fazer descobertas sobre a natureza dos vampiros, e a experimentar novos sentimentos, desejos, e emoções. Tudo isso a deixa confusa, mas ao mesmo tempo a leva adiante, a inspira, numa mistura de curiosidade e medo, a buscar algo mais, o que termina por diferenciá-la dos demais vampiros, que servem de massa de manobra de Riley.

Por fim, quando os planos - ou supostos planos - de Victoria e Riley se mostram ridiculamente frustrados, Bree sobrevive aos demais - sendo possível que Diego e Fred tenham sobrevivido também, de forma desconhecida, apesar de ser uma hipótese remota. É aí que ela tem contato com os Cullen, que, pensa ela, a queriam matar. No entanto, a superioridade moral dos Cullen, sobretudo por parte de Carlisle, controvertem totalmente as ideias que havia formado até então.

O relato de Bree confirma algumas características sobre a natureza dos vampiros de Stephenie Meyer. A vida de um vampiro, por exemplo, é uma vida diferente e separada da vida humana. Apesar de ser uma sequência ou continuação da existência terrena da pessoa transformada, há outra natureza, não humana, numa nova consciência e num corpo transformado. Isso faz com que memórias da vida anterior não sejam tão fáceis de ser lembradas, por exemplo. Além disso, quem é transformado em vampiro torna-se como uma criança, e precisa amadurecer, e aprender sobre seu segundo estado - o que infelizmente nunca chegou a acontecer com Bree.

Também é confirmada a superioridade de Bela em relação aos outros humanos - distinção notada pelo cheiro ela, especialmente de seus cabelos - prenúncio do quanto Bella será importante na história e na cultura vampírica, dentro e fora dos livros de Stephenie Meyer.

Essa intrigante história, sem dúvida, é indispensável para a compreensão do universo vampiresco de Stephenie Meyer e para a compreensão do próprio processo criativo da autora, para quem os personagens existem, sendo ela não propriamente a autora, mas a escritora, desses livros, parafraseando Roland Barthes.


Na Introdução, Meyer diz não saber o que o leitor sentirá por Bree. No meu caso, não sou muito de sentir algo pelos personagens - leio mais o texto que os personagens. Ainda assim posso dizer que é impossível não sentir um pouco de empatia pela jovem vampira, e não notar o quão humanos os vampiros também podem ser.


Postado por Renan Apolônio

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